Sobre o Curso

A Reestruturação do Curso

A decisão do Departamento de Planejamento e Administração Escolar por conceber, assumir e garantir a oferta do Curso de Especialização em Organização do Trabalho Pedagógico representou uma condição subjetiva expressa da defesa do caráter público da universidade. Até mesmo no período em que o departamento esteve com a sua força de trabalho mais reduzida em face da qualificação dos seus quadros o curso nunca deixou de ser ofertado.
 
A decisão por manter a oferta do curso a partir da sua reestruturação reflete, por um lado, um novo momento das condições de trabalho no departamento, sem, contudo, significar recuo em relação aos mesmos princípios que orientaram a sua criação, relacionados com a defesa da oferta pública e gratuita da pós-graduação lato-sensu. Por outro, reflete a compreensão de que é grande a demanda pela pós-graduação lato-sensu entre os professores das escolas públicas e os educadores que atuam com a educação não-escolar, na esfera dos movimentos sociais populares e, principalmente, entre os alunos da UFPR concluintes do curso de Pedagogia, bem como pedagogos egressos de outras instituições formadoras, pela pós-graduação lato-sensu.
 
São, portanto, um princípio e dois movimentos que caracterizam a nova oferta do curso. O princípio da defesa da gratuidade na pós-graduação como parte da defesa da universidade pública, gratuita, democrática e socialmente referenciada e os dois movimentos sendo um interno e o outro externo. O interno refere-se à força de trabalho do departamento disposta a garantir que o curso realmente aconteça, assumindo aulas das disciplinas e orientações das monografias. Isso implica na necessidade da quantificação da relação entre a capacidade da oferta da força de trabalho e a demanda do número de alunos a serem atendidos, levando em conta as novas condições de trabalho e as decisões dos docentes. Por exemplo, um docente que ao retornar do doutorado assume um número de aulas numa dada linha da pós-graduação sticto-sensu e ao mesmo tempo um número de orientandos no curso de mestrado ou doutorado terá, inevitavelmente, reduzido o seu tempo disponível para assumir aulas e orientações no curso de especialização. O outro movimento, externo, refere-se ao público-alvo que demanda a oferta do curso. Este, como anteriormente já referido, expressa no fundamental a condição do trabalhador da educação que precisa e tem o direito de ter acesso à formação científica, de caráter continuado, a ser garantida pelo estado.
 
As novas condições de trabalho estão diretamente associadas a outras demandas da força de trabalho do departamento e a sua nova qualidade, caracterizada principalmente pela qualificação dos seus quadros. Ao se qualificarem no nível de doutorado os docentes tiveram, por exemplo, abertas novas frentes de trabalho, particularmente nos cursos de pós-graduação stricto-sensu.
 
A reestruturação do curso, portanto, expressando essas novas condições de trabalho e da força de trabalho no departamento, deve ser realizada não mais levando em conta que todos os quadros docentes tenham disponibilidade para atuação no curso, mas que uma parcela desses esteja comprometida em dar sustentação à proposta do curso. Assim como a proposta, aprovada pelo departamento, para o Curso de Especialização em Políticas Educacionais, o novo desenho do Curso de Especialização em Organização do Trabalho Pedagógico, ampliando seu objeto para a ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA PÚBLICA E EDUCAÇÃO POPULAR deve compreender a existência de um corpo docente que assuma a responsabilidade pelas disciplinas e pelas orientações das monografias, superando a difícil tarefa da sua Coordenação na busca de docentes e de orientadores dos trabalhos de monografias. A constituição desse corpo docente deve, ressalvado o princípio mencionado da gratuidade do curso, representar as condições objetivas e subjetivas traduzidas pela sua epistemologia.

 

A Epistemologia do Curso

A oferta do Curso busca responder a demandas de educadores, graduados em pedagogia e ou licenciados que atuam nas redes de escolas públicas dos sistemas de educação e em ações educativas não-escolares sob a perspectiva da educação popular. Estudos diversos desenvolvidos em pesquisas e ações extensionistas coordenadas por docentes deste departamento, indicam uma desarticulação histórica entre as demandas geradas na escola pública e as demandas geradas por movimentos sociais na perspectiva da transformação social para a superação de desigualdades que atingem as classes populares, sendo contraditoriamente evidenciadas as proximidades temáticas nestes dois espaços, tanto do ponto de vista de suas pautas, quanto do ponto de vista de seus encaminhamentos. Entretanto, estudos desenvolvidos na área de currículo, bem como em constatações feitas nas análises dos dados coletadas na disciplina do Curso de Pedagogia, Estágio Supervisionado Obrigatório em Organização do Trabalho Pedagógico da Escola, evidenciam por sua vez, a grande dificuldade encontrada na organização do trabalho pedagógico da escola pública de forma a contemplar as demandas temáticas populares cotidianas, em articulação com o conhecimento científico universal historicamente produzido.
 
A formação de trabalhadores da educação básica no nível da graduação não tem contemplado historicamente conteúdos e reflexões que viabilizassem a superação de tal desarticulação entre o universo da escola pública e as lutas empreendidas pelos movimentos sociais, nas mais diversas áreas, expressas tais lutas em grande medida pela área da Educação Popular. Assim, a proposta de reformulação ora expressa caracteriza-se por contemplar em nível de especialização a articulação destes dois universos, expressando por um lado suas respectivas especificidades, mas por outro lado destacando suas possibilidades de imbricação, seus nexos, fortalecendo assim as classes populares em suas lutas pelo atendimento de seus direitos mais básicos de participação social. Nesta perspectiva formativa não se vislumbra ingenuamente a transformação social necessária para obtenção da justiça social urdida no espaço da escola pública, mas, sim se busca uma escola pública mais consciente de sua função social de formar sujeitos capazes de superar sua alienação e buscarem a agregação histórica necessária enquanto classe trabalhadora. Neste processo, necessária se faz uma formação, tanto dos trabalhadores da educação básica e na continuidade de seus educandos, que articule a conhecimento urdido no âmbito dos movimentos sociais populares com o conhecimento científico universal produzido historicamente, encontrando seus nexos.
 
Caracteriza-se, portanto, como uma especialização comprometida com a formação humana aportada em teorias críticas, e organicamente articulada com a defesa da educação pública, e na defesa dos interesses imediatos e históricos das classes populares e da transformação da realidade social. Compreende o respeito pela autonomia das formas de organização e das lutas políticas dos movimentos populares e dos processos educativos gerados no seu interior. Parte da compreensão teórica que os conhecimentos científicos, cuja socialização traduz a função essencial da escola na nossa sociedade, são socialmente produzidos a partir das contradições que movem as relações sociais de produção e as lutas de classes no modo de produção capitalista; que toda organização do trabalho pedagógico, tanto da esfera escolar quanto na esfera não-escolar, sofre, portanto, a mediação dessas contradições envolvendo desde a dimensão global até o fenômeno mais específico da prática social. Assim, a organização do trabalho pedagógico quer seja no âmbito escolar, quer no não-escolar, constitui desse modo, a categoria central de conteúdo e de análise do Curso.
 
O curso se propõe a tomar como princípio norteador, desenvolver um esforço teórico para relacionar, dialeticamente, o caráter científico, laico e social da escola pública, a partir da sua responsabilidade com a socialização dos conhecimentos científicos e culturais, com o caráter da educação popular, desenvolvida de modo autônomo no bojo das lutas da classe trabalhadora pelos movimentos populares em torno da defesa de direitos, da sua identidade e da defesa de uma outra hegemonia. Essa relação não implica em diluição de uma na outra, mas a caracterização das respectivas especificidades, dos pontos de intersecção e das contradições que marcam as duas esferas, da educação escolar e da educação não-escolar, na sua multidimensionalidade.
 
O aprofundamento crítico reflexivo sobre a natureza das classes sociais e do estado, tanto em termos gerais como na realidade brasileira, expressa, desse modo, uma base importante da caracterização teórica do curso. A partir dessa compreensão e apoiado na perspectiva da ontologia do ser social fundada no princípio educativo do trabalho, o curso deve dar conta de analisar a constituição histórica e a natureza atual da escola pública brasileira e da educação popular que nasce no interior da luta de classes, buscando as articulações entre ambas, no sentido de instrumentalizar o egresso do curso a uma atuação que supere a dicotomia posta historicamente entre estes dois universos.

 

O Público-Alvo

O Curso de Especialização em ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA PÚBLICA E EDUCAÇÃO POPULAR destina-se a profissionais Graduados em Pedagogia ou Licenciados nas diversas áreas de conhecimento, indistintamente. Expressa, portanto, importante elemento de inclusão de diversos profissionais de educação, além dos pedagogos, que podem garantir com sua participação uma maior universalidade e interdisciplinaridade epistemológica, tal como ocorre no contexto da prática educacional.

 

A Organização Curricular do Curso

A organização curricular do curso constitui-se a partir da concepção teórica do princípio educativo do trabalho; da historicidade da constituição da escola pública no Brasil e da formação dos diferentes espaços e concepções da educação popular desenvolvida pelos movimentos sociais; da articulação entre a escola pública e a educação popular desenvolvida de modo autônomo pelos movimentos sociais organizados pela classe trabalhadora; e, do desenvolvimento da compreensão sobre a natureza e especificidade da organização do trabalho pedagógico na escola pública e na educação popular.